O obscuro cintila é um tríptico que propõe um mistério. Esta série busca inserir o escuro como uma possibilidade de  potencializar uma narrativa fragmentada e magicizar a realidade de modo ficcional por meio da fotografia. A ausência de rostos, que causa o esfacelamento da identidades, presentes nas imagens é fruto deste enigma. Assim como os faquires indianos, como citou Machado de Assis em seu romance Brás Cubas, que esquecem do mundo e se concentram na ponta do nariz, tornando as imagens difusas e a proporcionar uma sacralização. Uma comunhão com o sagrado.



Fotografia
130x110cm
2011


Por Mariano Klautau Filho

'“O Obscuro Cintila”, título da obra de Haroldo Sabóia bem poderia não só localizar o seu território poético como o universo impreciso e colorido que constitui os trabalhos de Sofia Dellatorre Borges, Pedro Motta e Flavya Mutran. Estes artistas partem de uma relação sensorial de alta voltagem com o mundo e criam uma fotografia completamente fora do tempo real. Surgem desta experiência imagens profundamente oníricas; suspensas em outro tempo, pois criam mundos particulares para pensar a própria experiência perceptiva e suas ambiguidades. Pedro Motta e Sofia Delattorre provocam de modo irresistível quando literalmente mergulham o observador num estado de consciência no qual o que menos vale no jogo é o sentido racional.'
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Mais luminoso e com a mesma força ambígua dos artistas mencionados anteriormente, os retratos de Haroldo Sabóia fazem parte de um imaginário sertanejo, a matéria bruta na qual ele irá inscrever seus personagens. Ele consegue combinar luz intensa, cores fortes e sombras pesadas numa proposição de apagamento das identidades dos retratados. Inventa seres mágicos que construídos em superposições, ressaltam o caráter onírico e ficcional de sua fotografia. Sabóia cria espectros, enigmáticos e sem rosto, mas ao contrário dos retratos de Mutran imprime no espectador uma energia solar que emite signos de outra natureza, como cheiros, sons e temperaturas de uma paisagem interiorana brasileira insinuada em segundo plano. Emergindo das experiências sensórias de Motta, Dellatorre, Mutran e Sabóia; podemos fechar o panorama desta mostra com os retratos de corpo inteiro de um Brasil colorido, urbano, mestiço e irreverente, realizados no centro de São Paulo pelo grupo UMCERTOOLHAR formado por Celina Kostaschuk, Germania Heibe, Rosa Morena, Sinval Garcia e Xica Lima.

http://www.diariocontemporaneo.com.br/wp-content/uploads/2010/12/catalogoPremio2010.pdf