projeto
Bestiário
O Bestiário é um projeto que iniciei em 2012, propondo um exercício narrativo através de um percurso por áreas que estão em processo de desertificação no Estado do Ceará por meio do procedimento da catalogação e observação em fotografia.
O nome do projeto Bestiário é uma alusão ao gênero narrativo presente na idade média, cujo texto, através de recursos alegóricos e uma linguagem naturalista, compilava animais míticos da antiguidade. Alguns escritores latino-americanos como o argentino Jorge Luís Borges utilizaram o gênero do Bestiário como uma possibilidade criativa, como no “livro dos seres imaginários”, Borges reúne em uma enciclopédia, verbetes de diversos animais míticos criados ao longo da história da humanidade.
Atualmente, o projeto está sendo finalizado numa publicação.
fotografia mosaico
impressão jato de tinta
240 x 180cm
2014
impressão jato de tinta
240 x 180cm
2014
Fotografia
impressão jato de tinta
240 x 180cm
2014
Fotografia
impressão jato de tinta
300 x 240cm
2014
Ensaio Fotográfico
impressão jato de tinta
240 x 180cm
2014
Dos caminhos e seus inventários, em travessia
por Galciani Neves
Entre pedras, garrafas, animais, paisagens, estradas, plantas, ações registradas, palavras em espera, rascunhos a serem codificados, distintas estratégias de cartografias se dão em um compêndio de coisas nada uniformes. Ali, os tantos “punhados de areia” que Haroldo Saboia carregou desdobram-se como se chamassem o visitante a uma viagem: não para refazer o mesmo percurso. Antes, o artista propõe que se ampliem as possibilidades de se enxergar o mundo registrado em seus micro-contos que flagram distâncias, recolhas e acúmulos fragmentados de tudo que foi visto e vivenciado.
Na poética dos trabalhos ações como deslocamento, deriva, registro e acúmulo se dão imbricadamente. São gestos que ocorreram na temporalidade do inesperado que a viagem sem mapa, sem bússolas, sem planos prévios pode ocasionar. E acabam por desembocar na formatação de imagens, textos, desenhos e diagramas que não parecem obviamente conectados entre si e nem se querem ilustrativos dos caminhos percorridos. Tratam-se de projetos que sobrevivem a partir de uma relação tautológica (forma, conteúdo, processo). Existe uma relação tautológica com as coisas.
Sempre me pergunto o que posso apreender, absorver de algo. E assim, entendo meu trabalho como um processo mental de ver o mundo. Estou atraído por uma percepção de construir um trabalho que cria uma sensação de presença, não algo que leve a outro lugar, porém atente o espectador para onde ele está, que não necessariamente esteja numa linguagem verbal, mas talvez corporal.
Um percurso da experiência do artista, do seu corpo em movimento no espaço, quando o deslocamento é ferramenta crítica para mirar a paisagem, seus componentes, fenômenos ou eventos que acontecem ao acaso ou que são propostos pelo próprio artista.
O acúmulo de coisas e cenas evidenciado nos mosaicos de fotografias e nas cartografias de pedras e plantas demonstram aspectos do modo como o artista relaciona-se com o mundo e o organiza: gestos para manter/possuir algo que contem uma relação de contiguidade com os espaços, que detém uma memória imprecisa dos lugares. Sempre acreditei que as coisas fossem capazes de contar histórias ou, no mínimo, serem testemunhas do tempo.
Outro aspecto a ser evidenciado nos trabalhos é uma certa desconfiança ou mesmo uma dificuldade de pensar os processos de comunicação, os discursos como mensagens,ao mesmo tempo, falhos e muito potentes. Como se as coisas, as palavras, os diálogos não desse contam da experiência e somente por meio desses mosaicos, destes acúmulos,os trabalhos se aproximassem deste lugar de uma mensagem possível, menos configurada como fracasso e mais propositora ou disparadora de reflexões e percepções do outro. Acho que esses acúmulos apontam para esse paradoxo do sentido das coisas e de que talvez o único modo de experiência do mundo seja por meio de um certo delírio.
Estar/viver/observar dá-se para o artista como uma emergência visual, como expressão física-material dos lugares, como instrumento de conhecimento, experimentação e compreensão de territórios, como aspecto construtivo de uma cena psicogeográfica.
Meu trabalho normalmente é o resultado da vontade de reflexão direta da experiência, de uma construção de um conhecimento sensível em contato direto com um espaço. Interessa-me com estes deslocamentos investigar as marcas e os rastros de uma travessia e também uma proposição de um corpo que se desloca. Interessa-me o espaço invisível que surge a medida que nos deslocamos; um espaço carente de sentindo que ganha contornos possíveis assim que é apontado, talvez nomeado, como a construção de uma paisagem. Interessa-me estas travessias enquanto metáfora de um processo, repleto de falhas, fracassos e escolhas.
2014
por Galciani Neves
Entre pedras, garrafas, animais, paisagens, estradas, plantas, ações registradas, palavras em espera, rascunhos a serem codificados, distintas estratégias de cartografias se dão em um compêndio de coisas nada uniformes. Ali, os tantos “punhados de areia” que Haroldo Saboia carregou desdobram-se como se chamassem o visitante a uma viagem: não para refazer o mesmo percurso. Antes, o artista propõe que se ampliem as possibilidades de se enxergar o mundo registrado em seus micro-contos que flagram distâncias, recolhas e acúmulos fragmentados de tudo que foi visto e vivenciado.
Na poética dos trabalhos ações como deslocamento, deriva, registro e acúmulo se dão imbricadamente. São gestos que ocorreram na temporalidade do inesperado que a viagem sem mapa, sem bússolas, sem planos prévios pode ocasionar. E acabam por desembocar na formatação de imagens, textos, desenhos e diagramas que não parecem obviamente conectados entre si e nem se querem ilustrativos dos caminhos percorridos. Tratam-se de projetos que sobrevivem a partir de uma relação tautológica (forma, conteúdo, processo). Existe uma relação tautológica com as coisas.
Sempre me pergunto o que posso apreender, absorver de algo. E assim, entendo meu trabalho como um processo mental de ver o mundo. Estou atraído por uma percepção de construir um trabalho que cria uma sensação de presença, não algo que leve a outro lugar, porém atente o espectador para onde ele está, que não necessariamente esteja numa linguagem verbal, mas talvez corporal.
Um percurso da experiência do artista, do seu corpo em movimento no espaço, quando o deslocamento é ferramenta crítica para mirar a paisagem, seus componentes, fenômenos ou eventos que acontecem ao acaso ou que são propostos pelo próprio artista.
O acúmulo de coisas e cenas evidenciado nos mosaicos de fotografias e nas cartografias de pedras e plantas demonstram aspectos do modo como o artista relaciona-se com o mundo e o organiza: gestos para manter/possuir algo que contem uma relação de contiguidade com os espaços, que detém uma memória imprecisa dos lugares. Sempre acreditei que as coisas fossem capazes de contar histórias ou, no mínimo, serem testemunhas do tempo.
Outro aspecto a ser evidenciado nos trabalhos é uma certa desconfiança ou mesmo uma dificuldade de pensar os processos de comunicação, os discursos como mensagens,ao mesmo tempo, falhos e muito potentes. Como se as coisas, as palavras, os diálogos não desse contam da experiência e somente por meio desses mosaicos, destes acúmulos,os trabalhos se aproximassem deste lugar de uma mensagem possível, menos configurada como fracasso e mais propositora ou disparadora de reflexões e percepções do outro. Acho que esses acúmulos apontam para esse paradoxo do sentido das coisas e de que talvez o único modo de experiência do mundo seja por meio de um certo delírio.
Estar/viver/observar dá-se para o artista como uma emergência visual, como expressão física-material dos lugares, como instrumento de conhecimento, experimentação e compreensão de territórios, como aspecto construtivo de uma cena psicogeográfica.
Meu trabalho normalmente é o resultado da vontade de reflexão direta da experiência, de uma construção de um conhecimento sensível em contato direto com um espaço. Interessa-me com estes deslocamentos investigar as marcas e os rastros de uma travessia e também uma proposição de um corpo que se desloca. Interessa-me o espaço invisível que surge a medida que nos deslocamos; um espaço carente de sentindo que ganha contornos possíveis assim que é apontado, talvez nomeado, como a construção de uma paisagem. Interessa-me estas travessias enquanto metáfora de um processo, repleto de falhas, fracassos e escolhas.
2014